quinta-feira, 30 de abril de 2009

A solidão dói. Máscara de gelo que envolve meu corpo. Rachaduras que não se sabem passagem ou tampão pra um eu mais macio, se ainda me lembro que é maciez. Quilômetros separam-me de ti. Insistem em se alongar, criam espaços infindos e instransponíveis, onde nenhuma ponte tem engenharia possível. E já nem sei em mim o que é carência, falta, desejo ou simples tesão. A faísca me atrai, irresistíveis dez segundos de amor. Em seguida cai, obsoleta, inerte, errônea.

Haverá calor suficiente pra que Antártida se degele?

domingo, 26 de abril de 2009

queria me esconder dentro de uma caixinha e virar presente, sem o gosto amargo dessa palavra agora, e quem sabe até me tornar felicidade, mesmo que só pra ele.
pinga
de mim
na rua
escorre, cantarolando
lembrando-me o que é

fim

sábado, 25 de abril de 2009

teu desejo
aponta

teu medo
protege

bolha

contra-mundo
contra-mim

contra-vida

domingo, 19 de abril de 2009

Não

Não me queira
não me toque
não me olhe
não me cheire
não me fale
não me veja
não me inspire
não me lamba
não me morda
não me alcance
não me beije
não me atice
não me escute
não me falte
não me escorra
não me prenda
não me ame
não me pingue

não me deixe te amar

terça-feira, 14 de abril de 2009

Saudade

meu amor
viscoso
grosso

esvai-se
de mim

pinga
lento
apertado


sugado
gravidade

intacto
inteiro



A saudade me escorre, líquido viscoso e grosso. Tenta me sair das veias. Pinga lentamente. Funil. Briga entre a gravidade dos pingos e o continente do amor.

sábado, 11 de abril de 2009

quinta-feira, 9 de abril de 2009

em minha boca
seu gosto
em meu pêlo
seu poro
em meus cabelos
seu suor

se nos tornamos um
desfazendo o engano

na noite

como dilacerar
corpo
e faze-lo
dois
se estes já não são
mas é

letras de saudade

tu
teu cheiro
nós
em laços

subindo
subindo

coração era uma flor
que se entregava

delicadeza dum afago
como o buquê que me destes


minha língua
nada diz
apenas aguarda
lembrando o encontro da tua
e a festa que fazia
por existirmos

minha pálpebra
recusa-se
a abrir-se ao mundo

sem tua presença

o coração
esqueceu-se
pensa que bater é questão de capricho

paralisa meu sangue
corta minhas veias
sufoca meu ar
pinga de tua boca
o fel com que me feriste
traça no chão
um torto caminho

gota após gota
sangue
saliva
suor

excretos que se misturam
comigo
com a poeira
que juntos construímos

a língua agora toca
céu de veneno
e meu sexo despreza o teu

com as unhas
me rompes o peito
deixas à mostra
coração em sangue

amarrado
algemado
petrificado

vivo
cuspo em teu caminho
arranco-te de mim

corto a raiz
que insiste
e envolve-me

dilacero-a
salivando
faca sem corte

um dia
abrirei esta pele
romperei seus poros
rasgando seus laços

deixarei-te
a rastejar
e refazer
minha estrada
a violência dos teus olhos
invade-me
sem dó
com um giro de olhar

contorço minhas pernas
fecho-as
forte

no momento seguinte
os olhos novamente
encontram-se

fazem encontrar
todo meu corpo
em teu corpo

cola-os como amantes
infiéis
que se grudam em todo lugar

penetras-me
e finges não saber
que teu sangue escorre em mim
e teu sêmen me invade
explodindo o oco útero

domingo, 5 de abril de 2009

cru

quero verdade verdadeira
e mundo sem medo
quero inteiro
sentido
vivido
cheirado

quero amor
e mais amor
louco
de tanta sanidade

quero olho que veja
e boca que diga
mundo revirado
verdade revelada

sensibilidade tocada

humanidade.

será possível que é tanto o que peço?

sábado, 4 de abril de 2009

Si
Mesmo


macio
lugar
entornando amor

gira e espirala
felicidade recém descoberta

singeleza
descortinada
desembrulhando mágoa e reclusão

descamando cada sofrimento
(mesmo os interrompidos)

flor de Lótus
áurea branca e multicor
espalhando luz

amor!