sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Silenciosamente, ela pede para que aconteça. Sua vida amorfa e um tanto quanto acinzentada pulsa e pede mais, e ela não sabe bem pra onde. Só sabe que segue, sem destino. E pede, pede muito. Venha! o que quer de mim? Diz ela nas noites em que o comichão se instala no peito e o quarto fica cada vez mais pequenino, tão pequeno que as paredes encostam em toda a superfície do seu corpo vibrante e ela grita, e chora, e olha para a janela e pede, mais uma vez, implora para que aconteça. Me dê, eu quero. E sai de si, e, sempre em lágrimas, dança até expulsar as paredes de volta ao seu lugar, rodopia, salta, canta. Até cair exausta novamente na cama num momento fugaz de suspiro aliviado antes que percebam que ela adormeceu e pode novamente ser envolta por concreto.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Para Clarice
É inevitável. Amamos. A vida brota, jorra, escorre ao redor. Absolutamente orgânica. Nojenta. Viscosa. Corre, escorre de nós, de todos nós, mesmo quando cegos. E atiramo-nos sem dó à sua infalibilidade: não há lei que se possa fazer valer, a não ser a que diz que as regras foram feitas pela nossa inquieta tentativa de tampar o rombo da vida dentro de nós. E o sangue arranca com tanta violência os curativos débeis que fizemos no peito que é a própria vida que debocha de nós, e se ri, vendo a patética fragilidade com que tentamos não nos ser.
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