Eu te amo!
E o grito soou, no meio da noite, como um desabafo ao desamparo.
Aquele momento desconcertante.
E agora?
Agora ele sabe!
E soube. E para sempre. E como soube para sempre, nisso deu de pensar. E por mais que ela lhe falasse que era apenas êxito do gozo da noite e do prazer que sentira, a semente estava plantada.
A semente foi plantada naquele mesmo vaso, onde se plantam os sentimentos.
No vaso dele tinha semente de medo. Como quase todo vaso de homem, tinha plantado uma enorme vontade de não se envolver. A semente da insegurança era agora planta rufosa.
A sementinha do amor, tadinha, essa era só sementinha. Mal plantada, antes daquela aparição inesperada no meio da noite.
No vaso dela também tinha o medo. Semeado por muitos anos e homens. Tinha um medo enorme, planta feita. Chamava-se auto suficiência, catalogada em livros de ciência.
Essa ela regava diariamente. Tinha lido que assim se evitavam as populares ervas-daninhas-do-sofrimento.
Afinal de contas, seu jardim devia estar vistoso. Como poderia alguém se interessar por desertos áridos de terra sem vida?
A tal sementinha do amor, no entanto, quase em situação miraculosa, com intervenção de santo e padre, acabou se plantando.
No vaso dela foi primeiro, chegando-se e aconchegando-se, como se fosse sua casa, no meio do terreno árido. Que diabos aquela planta acha que é pra sobreviver à aridez que lhe impus?
Mas ali permaneceu. Sozinha.
Em sua terra não havia muita água.
Era um semi-árido que só findava no oásis da solidão e da auto-suficiência.
Atrevida como só ela, deu de querer viver. Ignorando avisos e descasos brotou. Agora era folhinha e não apenas semente. Dia após dia foram nascendo outras folhas.. outros ramos... outros galhos. A plantinha se exaltava quando, ao acordar, percebia o próprio crescimento. E se sacudia inteira, comemorando cada vitória. Ela sabia que era a alegria das vitórias sua única arma para a aridez do terreno.
Pra comemorar, Mariazinha, como fora apelidada pelas outras plantinhas do vaso, balançava-se, entregando-se ao vento. E trazia pra si a atenção. Quanto mais crescia, mais vistosa se tornava, e mais atenção chamava.
Em uma bela madrugada Mariazinha acordou. Olhou para o lado e ai meu deus!! todo um galho surgira, como mágica, ao seu lado esquerdo. Em um grito de felicidade lançou-se aos ventos e comemorou! Sentia-se forte e poderosa. Deu um grito, que soou fundo da noite escura!
Eu te amo!
o desabafo no desamparo.
Joãozinho, no vaso dele, ouviu. E deu de querer responder. Ele já ouvira de longe aquela voz. Reconhecia de longe sua amada. Sonhava diariamente em conhecê-la. Seria possível um dia criar pernas e libertar-se, correr para a beirada e gritar: Eu também!
Mas e se não fosse ele?
Joãozinho jamais vira Mariazinha. Escutara uma vez seu nome e nunca mais se esquecera.
(continua em capítulos a serem descobertos)
Luna
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