terça-feira, 5 de junho de 2012

Gente grande

quero redescobrir em mim
o lugar perdido da infância
a inocência em que via o mundo
e cria, sem dó
em sua beleza inabalável

quero ouvir em mim
o lugar do canto e do afago
e a força e a coragem
de não ser uma muralha cinza
não se perder na chatice da razão
e permitir que haja menos
não

quero achar dentro de mim
o ser que ama, vorazmente
ainda que possa encontrá-lo mais paciente

ou quem sabe afobado
virá encontrar-me à porta
e dizer: entra! depressa!
quase chega sem o tempo
de pelo menos despedir-se!

o mundo é ilusão
corrói a beleza em nossos olhos
e ensina que a isso nomeamos
amadurecer

diria eu, no entanto
a-cin-podrecer
onde foi parar tanta gana
tanta fome
e tanta pressa

em que tapetes esconderam meus pedaços

por onde soprarei de volta ao mundo
o pó que me compõe e se joga ao mundo
o vermelho que me acompanha em tristes caminhadas

tristes, como toda verdade
pulsante de eternidade

.

Que diabos, afinal, é isto que chamamos solidão?
Se é em nós que ela está
(e só lá ela pode existir)
Porque diabos ela continua?
Se já ordenei ao coraçaõ
à mente (in)sana
ao(s) corpo(s) são

Afinal de contas, defina-se!
Você mora em mim
ou eu em você?
Se por cinco minutos
o medo deixasse de existir
e dele estivesse o mundo livre

o que aconteceria contigo?
o que aconteceria comigo?

onde está o princípio de tudo?
A coragem das pequenas coragens?

como a de dizer:
eu te amo!
Escrevo porque preciso
me pinto de eus
de diversas cores
sabores
me fantasio em atriz da vida real
para pintar é preciso estar nua
A beleza já esteve
em formas redondas,
Semelhantes,
e principalmente,
harmônicas

Hoje,
hoje a beleza tá na vida
na vida como ela é,
errada,
escura,
às vezes.

Sem nenhuma perfeição
um traço torto
que traduz humanidade

Hoje a beleza saiu,
passeou pelo mundo,
e descansou nos seus lábios

finos,
tortos,
e lindos.

ô peito que palpita e não acalma..
como se toda a vida do mundo tivesse que ser vista agora, tocada, sentida, lambida nesse exato instante.
A vida não espera, meu peito também não.
tanto tempo demorei pra entender o que queria.. e agora que sei, tenho pressa, tenho fome, tenho gana de viver.

Zizek já nos disse: a sociedade libertária em que vivemos é uma farsa.
Que liberdade existe em sentir-se culpado por não gozar os prazeres da libertação?

a culpa nos acompanha onde vamos
no banheiro
no quarto
nas ruas
no vazio

preenche-nos com sua inestimável presença
sufoca-nos com sua agradável irrompidão



Como deixar que a emoção flua e conviva com a razão que tudo esquadrinha, mede, opina.
A emoção é a não opinião. É sentir antes de pensar e estar liberado para que o mundo possa se derreter em sua frente e sua crença no derretimento não titubear.
Solta-se um fio dentro de mim, que ainda terá um grande novelo a desembolar até que eu possa descompreender, desmortificar, desracionalizar.

a culpa por viver só vem da razão.

domingo, 15 de abril de 2012

se foi de ti que isso partiu
como conceber
que exista espaço pro amor
que o amor possa se entregar
que não há medo sem solução

se foi de ti que isso partiu
o que fazer da crença
de que, ainda que cega,
estaria segura
embalada em firmes cordões
que acalmariam meus temores

se foi de ti que isso partiu
morreu um pouco a esperança
de uma humanidade mais bonita
de uma tranquilidade mais sincera
de um amor mais afagado


fica em mim a dor triste
de lembrar que, enfim,
somos todos poetas
o que me contou você
como agora acreditar
se a fantasia de calmaria
se espantou na multidão
e novos olhares se revelaram
sob a mesma e calma face



como agora acreditar
que o coração pode adormecer
tranquilamente ser acordado
e saber onde está


como agora acreditar
que tudo aquilo que ficou
em nuvens cinzas do passado
esquecidas na branquidão dos dias
realmente se distancia de mim


como agora acreditar
que em tudo que o peito disse não
não havia uma verdade
se a construção
não se tornou um sopro
do desejo
e tudo que se deixou pra trás
agora vacila diante de nós


o que dizer deste retorno
à maior das naturalidades
ao velho e conhecido momento
em que a ilusão se dissipa
e a tristeza se instala

de mim você teve tudo

a angústia, a dúvida, a casa, o ventre

entregues dia após dia
num turbilhão que se tentava entender
dia após dia

tentando ser o que se deve
ver o que se deve
sentir o que se deve
entregando-se ao que se deve

dia após dia

quando a confiança
já confusa dos dias
se entregou em não perguntas
surge o estouro
de arrebentar veias

a tentativa parece ridícula
a visão está frouxa
o sentimento estilhaçado

dia após dia

dia após dia
reconstroem-se
penas
olhares
desejos
angústias

angústia que volta
angústia que vai
num canto de ninar
a quem não sabe o que dizer
de seu mundo que não é mais seu
de sua boca que não é mais sua
da saliva que tanto enlouqueceu
e do dedo que não mais reconhece a superfície

do desejo de vida
sobra pulsão
escondida, bem querida
bem no fundo do coração
e a gente, sem saber,
se a deixa vir ou não

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

E pedindo minha ajuda, encontrei isto:
Hoje peço ajuda pra conseguir ver um pouco além dessa nuvem de fumaça. Pra acreditar de coração pleno e bonito que a grama pode ser verde ou azul e que ainda assim será amada. E que o amor ainda existe. Pra olhar adiante com algum alívio no peito e alguma leveza no olhar e aquela ligeira sensação de cócegas que a felicidade ingênua nos dá. Hoje eu só queria um afago do mundo. Não mais mortes. Não mais violências. Não mais inquestionáveis absurdos.