domingo, 30 de novembro de 2008

Tom Zé: "é, não são as outras não. São vocês que transam sem gozar".

estranho o mito da liberdade sem liberté, do sexo sem (será?) prazer e das fêmeas a-sexuadas (ou pelo menos a-orgasmáticas, quem sabe até a-clitorianáticas, seja lá como se diga isso).
Não só a culpa de Eva nos despenca à cabeça, pesando ao menos 3 mil kg em cada mulher. A modernidade e a revolução sexual trouxeram mais alguns kgs de maçazinhas.
Agora além do pecado original e do sexo como errado e despudorado - e quem dera esse pudesse ser um sentimento de verdadeiro despudor - evas modernas têm que se ver com mais uma obrigação: gozar.
Claro.
E não adianta vir com essa desculpa de sentir-se culpada (com o perdão do trocadilho)! Afinal de contas a revolução sexual libertou as fêmeas deste fardo e é impossível que com tantos peitos, bundas e sexo vendidos aos olhos alguém ainda tenha coragem de se sentir inseguro ou incerto. Aliás, o que que é isso mesmo?
A bem dizer posso me considerar típica mulherzinha moderna pra trepar. Morro de tesão (pelo menos na maioria das vezes), adoro provocar e atropelo etapas facilmente. Consumo e perco o mistério da saia no joelho logo no primeiro dia. Mantenho a pose de mulher sarada e tarada - a essas alturas louca pra dar e aliviar um pouco a agonia do tempo que passa, enlouquecida com minha própria vida - e pouco tempo de preliminares depois - afinal, tempo é dinheiro - e o enorme desejo de invasão se torna tão grande quanto irresistível. Só acho que nesse caso nossa grande máxima acaba se entortando. É verdade que a propaganda é a alma do negócio - será que é por isso que continuamos dando por aí? - mas o desfecho dessa história costuma ser um tanto quanto frustrante. Depois de tanta pele e superfície, de exibir toda a propaganda de si em míseros minutos, a invasão ocorre apenas superficialmente, por qualquer buraco que temos. Não importa o tamanho do instrumento da invasão - embora, é claro, a propaganda dos avantajados seja "naturalmente" (com tudo o que há de natural em uma propaganda) mais sedutora. Ela é sempre curta e desorganizada, como as tentativas de greve em Belo Horizonte. Tenta uma entrada aparentemente aprofundada mas de força invasora tão tímida que não só não passa despercebido como também infelicita toda a alma vitrinada minutos antes.
Por outro lado, vitrines também que somos de um sexo livre e selvagem, fugimos - como boas atrizes em palco público - mas o que será um palco privado?? - - para ter o homem que sobrevoa a cidade, inflado de ego, nos dando sossego ao menos temporário durante sua viagem.
Devo agradecer, no entanto, aos publicitários. Sem eles talvez já tivesse me entregado à vida monacal.
Ou aprimorado a intenção de gueixa imemorável.


Luna
Deixo crescer o cabelo o bastante
até que se possa bem curto cortá-lo
a mania da mudança me acomete
e é uma pena que também me acometa essa porca linguagem
que ainda busca, ridiculamente, proximidade àlguns que admiro

que merda de cultura é essa que me faz prezar pela aparência, pelo bojo, até mesmo da linguagem? A superfície e não o conteúdo. Admirar quase sempre significa invejar, seja em bom ou mal sentido. De onde tiraram, afinal de contas, que tudo o que me apetece os sentidos ao ponto de me deixar enaltecida, admirada, é para ser imitado ou mesmo almejado?

As grandes bobagens e linguagens chulas fazem parte do que eu sou - e do que ser humano é. Adeus às prisões da fala e escrita.
Vou-me embora para Pasárgada!
(que pra mim sempre teve som de s, mesmo que tivesse que ter som de z)

Não quero "lembrar" ninguém, comparar-se a ou ser colocada no rol de. Sou peça única. A forma jogaram fora quando nasci, felizmente. Nem um irmão gêmeo ganhei para entrar em paradoxo.

Apenas Renata Santos.

Muito prazer.



Luna
Nenhuma pureza tenho
pra ser infringida pelo teu ser
Apenas tristeza de saber-te pra sempre
impossível.
Impossível o desejo
Impossível o amor de homem e mulher
Impossível o sexo reparador
e avassalador
Tua escolha não é apenas outra mulher
Escolheste, sem ainda saber,
a difícil vida entre iguais

E nada em minha existência
feminina
poderia aplacar esta sede
Foi-se embora um mundo construído
sob pilares de puro ar
que o mais brando sopro de vento
leva embora

o que me aflige é a injustiça do teu ser.
A tão justa injustiça da vida
que te põe ao meu lado
só pra provar
que este lado jamais ocorreu.


Luna
Quem invém lá?

A dor que dói também me conforta.

Surpresa.

Indagação.

Vida.



Luna
agosto

gosto

estou

o gosto

o gozo

o gosto amargo


saara vermelho

no meio do peito




Luna

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Beija-me a boca
um estranho
invade, toma o que é teu
o amor
o corpo desnudado
o ventre palpitante

o amor me invade
e arrasa comigo
me cheira o pescoço
e me puxa os cabelos

e eu, sem saber
me entrego de vez
ao meu próprio poseidon.
consumo.
desfaço.
entro.
abandono.

acompanho.
só.


Luna
a luz cega nossos olhos.
a retina se contrái, tímida
diante de tanto mundo
o coração disparado
traz consigo a força
da vida. do medo.
do encontro.

arte é encontro
de desejo, esperança
público, platéia, compositor
amor e ódio
vulcão e lagoa.

vai embora daqui!
leve consigo esta obrigação
de ter o que dizer
de parecer legal
ou inteligente

vai embora com suas regras e formas
meu coração não quer se adaptar!
não há necessidade.
já sou livre.

sinto livre.
penso livre.
amo livre.

Expulso os quadros e réguas
meus limites não são mensuráveis.
O que é o metro frente ao infinito?

que é esse medo da crítica
que paralisa
conserva
eternamente
entediante?

livrai-nos dos grilhões
da inteligência e da sensibilidade
deixai-nos ser, simplesmente.
Livres. Leves. Soltos
Gente, humana.
Errada, incerta, torta.
E linda.




Luna

Conversas na madrugada II

O que é ser artista afinal de contas?
O que é que a gente pode fazer no mundo?
Como atingimos as pessoas?
Como saber se o que fazemos faz alguma diferença nesse mundo de deus?
Ahh! esse enorme eterno deus e o universo ao redor que nos põe a infinita pergunta!
o que somos?? ora onde vamos?? o que acontecerá na hora que a matéria não mais existir e nosso corpo estiver decepado? Virado resto. Comida de bactéria.
Que ligação é essa com o mundo? Com a vida? Com todo mundo em volta que é inescapável e que parece inexistir para muitos em volta?
destino irônico este..
lutar sozinha contra a solidão!
lutar sozinha contra o desvínculo!
será que isso realmente faz sentido?


Luna

Conversas na madrugada

essa dor...
é esse amor incontrolável que explode por dentro!
que aumenta irremediavelmente
a cada experiência de alegria e felicidade.
O que é isso?
É vida!
É a mais completa experiência de vida que posso ter!
É sangue. O vermelho da flor.
O amor que me corre nas veias.
E é por isso que preciso
é por isso que preciso da arte.
E por isso sinto que não já não sei o que fazer de mim.
Não sei mais como aquietar este ser.
Não sei como deixar de ser
pétala vermelha em flor branca
ovelha negra.. ou rubra quem sabe.
Vinho inebriante.
Completamente sóbria.


Luna