quarta-feira, 30 de junho de 2010

old writtings
new me

decisão

é verdade que em qualquer caminho se sobrevive
mas o que eu quero da vida é viver
aquela corda reverberou em mim
mudou meus órgãos de lugar


me pôs no prumo dos ensandecidos

acaso

quando a vida pulsa a gente vira estrela e se joga na via láctea
não se fica triste quando a vida jorra
escrevo sobre nossos gestos
e n o r m e s

que nos atiram à solidão de nossa própria pequenez
A mulher aguarda, pacientemente, a sua vez de virar chuva.

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ela agora é bolor.
pulsão
noturna
veia que jorra e tinge o céu

é preciso sangue pra pintar poesia

terça-feira, 29 de junho de 2010

coleção returns - Pílulas de Solidão

Os pedacinhos de flor serviam de migalhas de Joãozinho e Maria. A noite era densa entre nós. Caíra subitamente e a cada vez que se aventava o assunto um arrepio saltava as colunas dorsais.
A noite era incomunicável.
Nos olhávamos sem saber bem porque e o ritmo de nossos ares há muito era descompassado.
A noite era só silêncio.

Um dia precisei me dizer
solitária, a poesia me abriu os braços

coleção returns - Pílulas de Solidão

balão
infla, desce, ar, sopra


shhhhhh.
a gota
cai
abismo de mim

coleção returns - Pílulas de Solidão

Os olhos daquela mulher exalavam brisa de mar e era só cruzarmos rosto com rosto prum verdadeiro batuque começar dentro de mim.
Tanta paz naqueles olhos mas tanto amor aqui dentro que mal cabia em tão poucos órgãos e pele e ossos e cabelos ressecados e grisalhos.
Aquela mulher era o capeta encarnado.
Adorável

coleção returns - Pílulas de Solidão

a estátua se ergue
cheia de elegância
no meio da noite escura

no meio da noite escura
dorme a estátua
elegante
solitária

coleção returns - Pílulas de Solidão

185. 185 chances que tínhamos de nos conhecer, de saber nossos nomes, rostos, desejos. 185 orgasmos em noites infindáveis. 185 vezes você repetiria que me ama e então cairia exausto ao meu lado e acordaria dando 185 passos pra longe, bem longe de minha vida.

coleção returns - Pílulas de Solidão

A poça, no chão, refletia o céu e eu te vi passar. Você voava lá em cima e de repente pousou naquele fio alto. Seus grampos caíram, um por um, sobre meus cabelos e eu entendi que nossa ligação seria sempre. Pouco a pouco também seus cabelos passaram a cair e toda uma mulher se derretia, pêlo por pêlo, acima de meu corpo em êxtase de angústia.

coleção returns - Pílulas de Solidão

a comunicação surpreende
bala que atravessa o cérebro

pára no meu quintal

coleção returns - Pílulas de Solidão

Foto-texto
Fotossíntese
Foto-escrita
Fotografia

coleção returns - Pílulas de Solidão

Foto-texto
Fotossíntese
Foto-escrita
Fotografia

coleção returns - Pílulas de Solidão

abismo
mim e ti
intransponível
irreconhecível

inseparável

coleção returns - Pílulas de Solidão

E de repente eu tô aqui de novo, com essa sensação imensa dentro do peito, a enorme quantidade de ar parado, onde os órgãos bóiam, sem desculpas pra existir. E essa vagueza que não me diz o que fazer, que me confunde e não se dá nem mesmo o trabalho de gritar algo na minha cara. Essa falta, mas a falta era do que mesmo? E nem eu consigo entender o que falta dentro, fora, pra mim, de mim, comigo, em mim. Eu não sei nem o que saber, nem se nada sei, nem se alguma coisa me passa seriamente pela cabeça. E esse cruzamento sem via permanece até a próxima meditação, sozinha no banheiro ou chorando no meu quarto. Porque aí eu sei. Sei o que preciso no agora, sei como sobreviver, sei que não é fácil, mas que existem caminhos. Sei que posso conquistar alguma coisa, mas aquilo que era mais essencial, que vinha antes disso tudo continua vazio e inflando e querendo fazer explodir um pedaço do mim, ou quem sabe todo ele.
O que eu quero é sobreviver?

coleção returns - Pílulas de Solidão

se fosse possível
fazer com que significados e palavras
penetrassem o corpo do outro

eu apenas teria a dizer
vamos juntos?

coleção returns - Pílulas de Solidão

Amor
Roubaste de mim o que eu ainda não tinha

coleção returns - Pílulas de Solidão

Hoje fui à aula de poeta, lemos muitos textos de amor. Em todos eles tua silhueta insistia em aparecer. Eu fingia não ver, ignorava tua existência até o texto seguinte quando, renitente, lá estavas de novo. Não importavam as imagens criadas, os reinos distantes, as prosas cotidianas, teu olhar sempre brotava. Onipresença, só deus e tu conseguem.

Uns dias pra trás fiz um pedido. Escrevi meu desejo com a ponta dum cristal em vela branca, acendi-a e olhei fixo para a chama, fazendo-a crescer, germinando pensamento. Estava escrito no livro das sombras. Pedi a verdade. Inescapável.

Meu desejo só se pode ter invertido. O desajeito contigo, vai longe. A saudade chegou. Fez ninho. Desassossegado, desaconchegado. E quanto mais em casa, maior buraco ela cava.
Hoje meu coração rolou ladeira abaixo, expulso da escavação peitoral. E lá corria eu atrás dele, bola de pêlo, galho e lixo. Parou no pé do morro. Ledo engano. Parou justo a teus pés.

Sem coragem de encarar-te, fingi não saber. Passei a apreciar a paisagem, forçosamente distraída. Caminhei firme para casa, sem te ver. Para trás, tu e a bola disforme que um dia fora meu coração.
o relógio devia ser mole
massinha
dessas que a gente pode esticar, essticar, estiiicar, esticcar, esticaarrr

até que coubesse nele todo o tempo de ter tempo

embrulho

laço de fita que desce
e re-desce tentando envolver sem que
perceba; o presente da caixinha é muito
maior, escorre pelos cantos, entorna pelo chão.........
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