Hoje fui à aula de poeta, lemos muitos textos de amor. Em todos eles tua silhueta insistia em aparecer. Eu fingia não ver, ignorava tua existência até o texto seguinte quando, renitente, lá estavas de novo. Não importavam as imagens criadas, os reinos distantes, as prosas cotidianas, teu olhar sempre brotava. Onipresença, só deus e tu conseguem.
Uns dias pra trás fiz um pedido. Escrevi meu desejo com a ponta dum cristal em vela branca, acendi-a e olhei fixo para a chama, fazendo-a crescer, germinando pensamento. Estava escrito no livro das sombras. Pedi a verdade. Inescapável.
Meu desejo só se pode ter invertido. O desajeito contigo, vai longe. A saudade chegou. Fez ninho. Desassossegado, desaconchegado. E quanto mais em casa, maior buraco ela cava.
Hoje meu coração rolou ladeira abaixo, expulso da escavação peitoral. E lá corria eu atrás dele, bola de pêlo, galho e lixo. Parou no pé do morro. Ledo engano. Parou justo a teus pés.
Sem coragem de encarar-te, fingi não saber. Passei a apreciar a paisagem, forçosamente distraída. Caminhei firme para casa, sem te ver. Para trás, tu e a bola disforme que um dia fora meu coração.
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