terça-feira, 7 de outubro de 2025

os mesmos

 o barulho do fogo abre as minhas janelas
por dentro, já não consigo evitar
corredores - minhas veias
onde animais pulam, correm e gritam
as plantas caem no caminho
e resta o fervor do sangue

atravesso a incômoda realidade
de novo nós, os mesmos, sempre
a roer as pontes, a desver o laço
prometendo a si nunca mais reconhecer
o todo, antes do um

de novo nós, os mesmos, sempre
a desfazer a poesia viva
na terra-recurso-prometida
medida em acres, hectares, fitas
mas nunca em vida 

de novo nós, os mesmos, sempre
cegos contumazes, tão acostumados com a luz de nosso esplendor
absolutos, evidentes, científicos
desorgânicos
entre dentes, sustentáculo da morte
vaidosamente exibida
no espetáculo de heróis

de novo nós, os mesmos, sempre
a fazer da vida a desculpa
para o espelho narcísico do amor
que de tanto olhar só para si
apodrece caule-folha-fruto
semi-deuses enlouquecidos
apressados a dizer: sentir não é ciência
ciência não é cheiro
a autorização sou eu

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