Depois de um longo período de inverno parece que é chegada a hora de me retirar de novo, pra fora da casquinha. Esse post na verdade vai ter um formato diferente de todos os outros, porque sou eu falando, sem intermediação de texto construído ou personagem imaginado. Sou só eu quem falo.
Pela primeira vez vou falar do último relacionamento que tive, antes do atual. Escrever é sempre algo bom pra que a gente se entenda, se veja, se explique pra si mesmo e siga adiante. E a verdade é que eu tô cansada de não seguir adiante e de levar comigo esses pesos que não são nem nunca foram meus.
Eu admito: eu estava fraca. Fraca e carente. E isso é sempre uma combinação explosiva em mulheres. Enfiando os pés pelas mãos com cada homem que eu encontrava pela frente e sem nenhuma pretensão de ter um relacionamento com ninguém.
Até que eu encontrei um cara muito insistente. Pra falar a verdade pegajoso. Era de uma capacidade de ter quinhentos mil braços em volta, pra controlar cada segundo da minha vida, que era uma coisa impressionante. Eu não sei bem porque fui aguentando, já que desde o segundo encontro já tinha ficado claro o ciúmes, o territorialismo, todas essas coisas que me embrulham o estômago só por pensar.
Ele tinha uma carga moral fortíssima. Era como se ele soubesse dizer o que é certo e o que é errado e colocasse isso de forma inequívoca o tempo inteiro. E isso não era feito com as palavras, racionalizando, mas de uma forma muito pior. Era com ações que vão cortando as possibilidades de caminhos e seguindo pra um e sempre um lugar, aquele seguro, aquele definido. Por ele, claro. E eu sempre me assusto quando olho pra trás e vejo que eu segui o caminho. É difícil de acreditar, é tão distante da minha natureza, da pulsão vital que existe em mim que realmente não consigo deixar de ficar abismada.
Depois de um tempo esse caminho ficou daquele jeito correto. Era o correto a se fazer. E eu me sentia um lixo, o pior ser humano do mundo, porque eu não conseguia querer o correto. Eu nunca quis. Nunca me apertou o coração, nunca me fez ter um desejo real, nunca me brilhou os olhos, nunca me encheu de leveza e esperança e essas coisas pelo menos costumavam ser recorrentes quando eu me apaixonava. Pelo contrário, era sempre tudo tão pesado, tão culpado, eu tinha sempre a sensação de estar errada e tentando reparar meu erro e que por isso eu tinha que continuar, seguir, caminhar naquele lugar feito pra mim mas feito por outra pessoa.
Até o momento que eu não suportei mais. Até hoje a mera lembrança me causa um pouco de náusea e um semblante fechado, preocupado, endurecido. É, nesse tempo eu endureci. De um jeito que eu nem sabia que era possível e que eu não gosto nada. Foi um ir-se fechando dentro de si e da sua culpa que era uma coisa inexplicável e parecia irreversível. O mais louco era que a partir de um momento eu sabia. Eu sabia que tava me fechando, que tava fazendo essa crosta em volta mas não conseguia voltar atrás.
As tentativas de dar pontos finais foram sucessivamente fracassadas. Acho que precisei de 5 pra conseguir. A insistência, a chantagem emocional clara, o uso de todas as forças coercitivas: era nesse furacão que eu me encontrava. Quando por fim eu não suportava mais a idéia de proximidade física, embora ainda achasse, na minha culpa, que eu precisava de manter alguma proximidade amigável e ajudar no que precisasse - porque meu deus, eu me martirizei tanto? porque fui tão besta em não ver o que era claro à minha frente e não dar logo um pé na bunda e tchau? - dei o ponto final na relação "amorosa" - que de amor sempre passou longe, em ambos os lados - e mantive contatos amigáveis e profissionais.
Mais uma vez o sentimento de culpa, já que parecia que a idéia era me aproveitar de uma situação profissional. Logo eu tendo esse tipo de sentimento. Com toda essa explosão de independência que eu carrego duramente e que me empurra pras situações mais adversas e que me dá essa graça de olhar pra trás e ver que eu construi. E precisar visceralmente dessa sensação. Eu tendo a sensação de que estava ali me aproveitando profissionalmente de uma pessoa. E ele fazendo questão que eu me sentisse assim: dependente. Tudo o que eu mais abomino, tudo o que eu não suporto pensar em ser. E lidando com isso como se eu estivesse errada e precisasse me enquadrar. Porque eu fiz isso comigo? Pra que? Ainda hoje olho pra trás e não me entendo. Não entendo porque entrei nesse abismo tão grande e tão difícil de sair. Não entendo porque eu deixei que isso tudo acontecesse, assim mesmo, EU deixei. Porque ninguém mais tinha esse poder, senão eu. O que eu fiz comigo, meu deus? porque eu fiz isso comigo? que falta de amor próprio foi essa, pra me colocar como o lixo do lixo?
É certo que tenho uma tendência à tristeza.. isso já vem até mesmo de uma análise iridológica (pode?). Mas não tenho dúvidas que boa parte da grande sensação de frustração e incapacidade na qual estou atualmente mergulhada, literalmente lutando pra não me afogar, vem dessa experiência que parecia ter como objetivo principal minar todo e qualquer traço de independência e percepção de força em mim mesma.
Devo necessariamente, a essa altura, fazer um adendo. Não é meu querer, de forma alguma, qualquer revanchismo, vingança ou culpar ninguém por isso. Meu grande susto, na verdade, é justamente ver que eu permiti. E saber que isso é tão distante da minha personalidade que assusta perceber o quão perdida eu estava. O objetivo aqui é entender o que eu passei, é escrever e colocar pra fora o que não é meu e que eu não quero mais carregar comigo. É devolver pro universo uma coisa que não é minha.
A cartada final foram os trabalhos. O primeiro, em Corumbá, que depois eu descobri que não foi feito nenhum esforço pra que ficássemos em quartos diferentes. Era planejado, era baixo, era sujo. O segundo, em Ouro Preto, já bem mais controlável e distanciável. O terceiro, em Campo Grande, onde a distância estava selada e sacramentada e acho que foi o detonador do processo.
A mera especulação sobre a aproximação de outro homem, diante de todo aquele aparato feito pra me manter em um caminho e apenas nele, e me retirar de qualquer outro círculo, fez com que a loucura se manifestasse. É o melhor que posso dizer de um homem que dá empurrões em uma mulher, ameaça-a fisicamente, fica aos berros gritando que se ela quer dar, que o faça em Belo Horizonte. Tudo isso porque me viu no hall do hotel, num momento em que achava que eu estaria no quarto. E coroado com não me deixar fechar a porta do próprio quarto e depois, quando consegui finalmente, ficar aproximadamente 40 minutos repetindo a mesma frase incessantemente na porta e depois gritar comigo toda vez que me via e vir dizer da minha falta de respeito por ele. Leiam: a MINHA falta de respeito.
Se ainda tivesse acabado por aí... Mas depois ele fez questão de destruir o que podia: o que fazíamos profissionalmente ali. Mandou emails pros nossos alunos de oficina dizendo que estava indo embora porque eu tinha um caso amoroso, além de literalmente surtar durante uma aula. Enfim, os detalhes são dolorosos e dispensáveis.
Essas são todas coisas que ainda mexem muito comigo. Desde pequena que carrego em mim uma enorme sensação de que eu preciso fazer as coisas da forma justa e preciso criar justiças nas situações. Até mesmo por isso fui extremamente solícita a conversas, durante todo o processo do não, pra que ele entendesse o que estava acontecendo. Expliquei dezenas de vezes que eu não queria mais e que ele tinha que seguir adiante. Isso tudo, claro, antes do momento coroação.
A sensação de que o que acontecia comigo era de uma injustiça tremenda é a pior de todas. Lidar com isso é tão difícil quanto lidar com o peso que até hoje eu sinto por existir, aquele peso que ele fez questão de ir colocando nos meus ombros e que eu ainda não consegui sacudir. As reações em volta foram igualmente tão impressionantes que até hoje me deixam marcas e azedumes que eu quero muito conseguir jogar na lata de lixo e deixar por lá.
Acho que a coisa mais difícil de tudo é olhar pra trás e ver e admitir que eu fui tão fraca, tão besta. Que eu me entreguei tanto à pior situação que eu vivi, que eu anulei a minha pulsão pra caber numa coisa na qual eu nunca acreditei. Não era nem uma paixão, pra explicar parcialmente pelo menos os motivos de ter me colocado assim. Não era. Era uma loucura, uma cegueira, uma falta total de capacidade de auto-proteção e auto-percepção. Meu deus, como eu estava doente. E essa cobrança que tenho de mim mesma é tão enorme que me faz sentir ridícula por ter passado por tudo isso. Além de me sentir ridícula quando estava dentro da situação, continuo me sentindo ridícula por ter passado por ela.
É certo, eu preciso amolecer no grau de exigência de mim. Mas como ser capaz de fazer isso olhando pra trás e vendo essa história? É difícil diminuir as expectativas sobre mim mesma quando a sensação é a de que não só eu perdi tempo como regredi em coisas tão fundamentais como relações humanas, leveza, amor, abertura ao novo.
E ainda fico com mais uma questão difícil. A de que, nesse meio tempo, eu realmente conheci alguém que mexeu comigo. Que me fez brilhar os olhos de novo. Mas que, assim como eu, tem essa carga de mágoa e coisas mal resolvidas e uma nuvem um pouco carregada no ar. A grande dificuldade é como lidar com todos esses trovões sem dar, a cada um, o espaço de se recompor. Uma porrada exige curativos e eles só são realmente possíveis quando a gente tá sozinho. Essa solidão necessária é que é difícil de alcançar, principalmente quando se mora com a pessoa que te brilha os olhos. É como se eu precisasse de um recorte de tempo, só pra mim, e depois pudesse retornar à minha vida e coisas. Enquanto isso não acontece a sensação é de que eu adio, adio e adio o que preciso fazer.
Esse desabafo não tem como acabar ainda. O post se encerra, mas o processo está existindo em mim, ainda precisará de noites de pensamentos e escritas. E daquela solidãoziha...
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
jogo
esse vórtice da vida assusta os desavisados
em meio ao furacão
somos trazidos ao olho
centro de tudo
suspendem-se casas
escritórios, louças, papéis, tapetes
pessoas suspensas
os pés no ar,
o pensamento
desfaz-se, como a morte.
em meio ao furacão
somos trazidos ao olho
centro de tudo
suspendem-se casas
escritórios, louças, papéis, tapetes
pessoas suspensas
os pés no ar,
o pensamento
desfaz-se, como a morte.
o mistério da morte
O silêncio
no escuro do quarto
é apenas isto:
ausência
as lembranças se acumulam
povoam a memória que praticamente toca
o cenário construído e ouve aquela antiga fala
O vazio grita pelo desespero de ser só um ponto
ausente
e pelo medo de tornar-se um sopro no vento da memória
no escuro do quarto
é apenas isto:
ausência
as lembranças se acumulam
povoam a memória que praticamente toca
o cenário construído e ouve aquela antiga fala
O vazio grita pelo desespero de ser só um ponto
ausente
e pelo medo de tornar-se um sopro no vento da memória
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Silenciosamente, ela pede para que aconteça. Sua vida amorfa e um tanto quanto acinzentada pulsa e pede mais, e ela não sabe bem pra onde. Só sabe que segue, sem destino. E pede, pede muito. Venha! o que quer de mim? Diz ela nas noites em que o comichão se instala no peito e o quarto fica cada vez mais pequenino, tão pequeno que as paredes encostam em toda a superfície do seu corpo vibrante e ela grita, e chora, e olha para a janela e pede, mais uma vez, implora para que aconteça. Me dê, eu quero. E sai de si, e, sempre em lágrimas, dança até expulsar as paredes de volta ao seu lugar, rodopia, salta, canta. Até cair exausta novamente na cama num momento fugaz de suspiro aliviado antes que percebam que ela adormeceu e pode novamente ser envolta por concreto.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Para Clarice
É inevitável. Amamos. A vida brota, jorra, escorre ao redor. Absolutamente orgânica. Nojenta. Viscosa. Corre, escorre de nós, de todos nós, mesmo quando cegos. E atiramo-nos sem dó à sua infalibilidade: não há lei que se possa fazer valer, a não ser a que diz que as regras foram feitas pela nossa inquieta tentativa de tampar o rombo da vida dentro de nós. E o sangue arranca com tanta violência os curativos débeis que fizemos no peito que é a própria vida que debocha de nós, e se ri, vendo a patética fragilidade com que tentamos não nos ser.
domingo, 8 de agosto de 2010
domingo, 18 de julho de 2010
quinta-feira, 15 de julho de 2010
sábado, 3 de julho de 2010
E me desculpo, no caminho, por aqueles que não têm essa coragem.
Por todos os que me disseram não e pretenderam que eu neles acreditasse.
Por todos os que agora fazem parte do quadro de minha história.
Me fortaleceram, decerto. Mas trouxeram também o sabor ocre, de vida sem vida, sem cor, sem luz, sem amor. E, o pior, a idéia de que isto é viver, certamente.
Por todos os que me disseram não e pretenderam que eu neles acreditasse.
Por todos os que agora fazem parte do quadro de minha história.
Me fortaleceram, decerto. Mas trouxeram também o sabor ocre, de vida sem vida, sem cor, sem luz, sem amor. E, o pior, a idéia de que isto é viver, certamente.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Eu entendo que eu seja inevitável. A questão é que eu gosto dessa inevitabilidade. A minha vida inteira eu soube que esse momento chegaria, que eu precisaria de ouvir o que é minha essência pra então entender o que era pra ser eu. Inevitavelmente eu. Conseqüentemente eu. E gostar da infalibilidade desse destino. E das falências dos planos anteriores, de tantos planos, de tantos gestos, de tantos pensamentos. E pensar que agora é só luz, só ar, pó iluminado naquele feixe claro que sai da janela dos meus olhos, ecoa no infinito de fora e rebate num peito aberto e vermelho.
pulsão
A vontade de ir embora pressiona as veias arteriais. O sangue é bombeado 489 vezes. O coração se acelera, pára bruscamente, recomeça, em staccato, pra depois perder novamente o ritmo e andar quilômetros por passo.
Deus errou a medida de vida e me explodiu em eternidade.
Deus errou a medida de vida e me explodiu em eternidade.
escrita
Escrever pra que?
Quer coisa mais inútil do que essas palavras marcadas no papel ou na tela do meu computador?
De que serve dizer-me, contar-me, inventar histórias e personagens que antes de tudo só servem praquele propósito inicial de fazer manar um pouco da minha história e da minha dor. Fazê-las mais suportáveis e talvez um pouco menos dignas. Ou girar ainda o vórtice do meu peito e irromper em lágrimas e espirrar sangue e na visão embaçada enxergar que não há como fugir.
A poesia é irretornável.
E sentar, trôpega, ofegante, e escrever, escrever, escrever, sem hora pra acabar, sem dia seguinte que chegue com afazeres tão mundanos, tão mesquinhos. E olhar a própria tela de palavras sendo apenas capaz de desfazer-me diante da inevitabilidade. Sou mulher. Sou frágil. Sinto muito.
Quer coisa mais inútil do que essas palavras marcadas no papel ou na tela do meu computador?
De que serve dizer-me, contar-me, inventar histórias e personagens que antes de tudo só servem praquele propósito inicial de fazer manar um pouco da minha história e da minha dor. Fazê-las mais suportáveis e talvez um pouco menos dignas. Ou girar ainda o vórtice do meu peito e irromper em lágrimas e espirrar sangue e na visão embaçada enxergar que não há como fugir.
A poesia é irretornável.
E sentar, trôpega, ofegante, e escrever, escrever, escrever, sem hora pra acabar, sem dia seguinte que chegue com afazeres tão mundanos, tão mesquinhos. E olhar a própria tela de palavras sendo apenas capaz de desfazer-me diante da inevitabilidade. Sou mulher. Sou frágil. Sinto muito.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
terça-feira, 29 de junho de 2010
coleção returns - Pílulas de Solidão
Os pedacinhos de flor serviam de migalhas de Joãozinho e Maria. A noite era densa entre nós. Caíra subitamente e a cada vez que se aventava o assunto um arrepio saltava as colunas dorsais.
A noite era incomunicável.
Nos olhávamos sem saber bem porque e o ritmo de nossos ares há muito era descompassado.
A noite era só silêncio.
Um dia precisei me dizer
solitária, a poesia me abriu os braços
A noite era incomunicável.
Nos olhávamos sem saber bem porque e o ritmo de nossos ares há muito era descompassado.
A noite era só silêncio.
Um dia precisei me dizer
solitária, a poesia me abriu os braços
coleção returns - Pílulas de Solidão
Os olhos daquela mulher exalavam brisa de mar e era só cruzarmos rosto com rosto prum verdadeiro batuque começar dentro de mim.
Tanta paz naqueles olhos mas tanto amor aqui dentro que mal cabia em tão poucos órgãos e pele e ossos e cabelos ressecados e grisalhos.
Aquela mulher era o capeta encarnado.
Adorável
Tanta paz naqueles olhos mas tanto amor aqui dentro que mal cabia em tão poucos órgãos e pele e ossos e cabelos ressecados e grisalhos.
Aquela mulher era o capeta encarnado.
Adorável
coleção returns - Pílulas de Solidão
a estátua se ergue
cheia de elegância
no meio da noite escura
no meio da noite escura
dorme a estátua
elegante
solitária
cheia de elegância
no meio da noite escura
no meio da noite escura
dorme a estátua
elegante
solitária
coleção returns - Pílulas de Solidão
185. 185 chances que tínhamos de nos conhecer, de saber nossos nomes, rostos, desejos. 185 orgasmos em noites infindáveis. 185 vezes você repetiria que me ama e então cairia exausto ao meu lado e acordaria dando 185 passos pra longe, bem longe de minha vida.
coleção returns - Pílulas de Solidão
A poça, no chão, refletia o céu e eu te vi passar. Você voava lá em cima e de repente pousou naquele fio alto. Seus grampos caíram, um por um, sobre meus cabelos e eu entendi que nossa ligação seria sempre. Pouco a pouco também seus cabelos passaram a cair e toda uma mulher se derretia, pêlo por pêlo, acima de meu corpo em êxtase de angústia.
coleção returns - Pílulas de Solidão
a comunicação surpreende
bala que atravessa o cérebro
pára no meu quintal
bala que atravessa o cérebro
pára no meu quintal
coleção returns - Pílulas de Solidão
E de repente eu tô aqui de novo, com essa sensação imensa dentro do peito, a enorme quantidade de ar parado, onde os órgãos bóiam, sem desculpas pra existir. E essa vagueza que não me diz o que fazer, que me confunde e não se dá nem mesmo o trabalho de gritar algo na minha cara. Essa falta, mas a falta era do que mesmo? E nem eu consigo entender o que falta dentro, fora, pra mim, de mim, comigo, em mim. Eu não sei nem o que saber, nem se nada sei, nem se alguma coisa me passa seriamente pela cabeça. E esse cruzamento sem via permanece até a próxima meditação, sozinha no banheiro ou chorando no meu quarto. Porque aí eu sei. Sei o que preciso no agora, sei como sobreviver, sei que não é fácil, mas que existem caminhos. Sei que posso conquistar alguma coisa, mas aquilo que era mais essencial, que vinha antes disso tudo continua vazio e inflando e querendo fazer explodir um pedaço do mim, ou quem sabe todo ele.
O que eu quero é sobreviver?
O que eu quero é sobreviver?
coleção returns - Pílulas de Solidão
se fosse possível
fazer com que significados e palavras
penetrassem o corpo do outro
eu apenas teria a dizer
vamos juntos?
fazer com que significados e palavras
penetrassem o corpo do outro
eu apenas teria a dizer
vamos juntos?
coleção returns - Pílulas de Solidão
Hoje fui à aula de poeta, lemos muitos textos de amor. Em todos eles tua silhueta insistia em aparecer. Eu fingia não ver, ignorava tua existência até o texto seguinte quando, renitente, lá estavas de novo. Não importavam as imagens criadas, os reinos distantes, as prosas cotidianas, teu olhar sempre brotava. Onipresença, só deus e tu conseguem.
Uns dias pra trás fiz um pedido. Escrevi meu desejo com a ponta dum cristal em vela branca, acendi-a e olhei fixo para a chama, fazendo-a crescer, germinando pensamento. Estava escrito no livro das sombras. Pedi a verdade. Inescapável.
Meu desejo só se pode ter invertido. O desajeito contigo, vai longe. A saudade chegou. Fez ninho. Desassossegado, desaconchegado. E quanto mais em casa, maior buraco ela cava.
Hoje meu coração rolou ladeira abaixo, expulso da escavação peitoral. E lá corria eu atrás dele, bola de pêlo, galho e lixo. Parou no pé do morro. Ledo engano. Parou justo a teus pés.
Sem coragem de encarar-te, fingi não saber. Passei a apreciar a paisagem, forçosamente distraída. Caminhei firme para casa, sem te ver. Para trás, tu e a bola disforme que um dia fora meu coração.
Uns dias pra trás fiz um pedido. Escrevi meu desejo com a ponta dum cristal em vela branca, acendi-a e olhei fixo para a chama, fazendo-a crescer, germinando pensamento. Estava escrito no livro das sombras. Pedi a verdade. Inescapável.
Meu desejo só se pode ter invertido. O desajeito contigo, vai longe. A saudade chegou. Fez ninho. Desassossegado, desaconchegado. E quanto mais em casa, maior buraco ela cava.
Hoje meu coração rolou ladeira abaixo, expulso da escavação peitoral. E lá corria eu atrás dele, bola de pêlo, galho e lixo. Parou no pé do morro. Ledo engano. Parou justo a teus pés.
Sem coragem de encarar-te, fingi não saber. Passei a apreciar a paisagem, forçosamente distraída. Caminhei firme para casa, sem te ver. Para trás, tu e a bola disforme que um dia fora meu coração.
embrulho
laço de fita que desce
e re-desce tentando envolver sem que
perceba; o presente da caixinha é muito
maior, escorre pelos cantos, entorna pelo chão.........
....................................................................
e re-desce tentando envolver sem que
perceba; o presente da caixinha é muito
maior, escorre pelos cantos, entorna pelo chão.........
....................................................................
domingo, 16 de maio de 2010
talvez o mais difícil hoje
seja saber de onde tirar essa vontade
pra quê querer existir, que sentido faz a minha vida e a sua
depois de tudo o que foi feito
depois de tudo o que se descobriu, desencantou
tudo o que se abriu e nunca mais voltou
depois de tudo isso
talvez o que nos caiba seja o silêncio
não o silêncio da criação
da maturação de algo
mas
o silêncio da ausência
da ausência completa de sentido
da ausência completa de força
da ausência completa de gozo
seja saber de onde tirar essa vontade
pra quê querer existir, que sentido faz a minha vida e a sua
depois de tudo o que foi feito
depois de tudo o que se descobriu, desencantou
tudo o que se abriu e nunca mais voltou
depois de tudo isso
talvez o que nos caiba seja o silêncio
não o silêncio da criação
da maturação de algo
mas
o silêncio da ausência
da ausência completa de sentido
da ausência completa de força
da ausência completa de gozo
sexta-feira, 14 de maio de 2010
É estranho pensar em como não nos reconhecemos a partir de um tempo. Nosso rosto, nosso cabelo, as feições. Às vezes até a roupa que usamos. A gente se estabelece à revelia do que pensou pra si. Do que racionalizou, pensou, definiu, mensurou. Imagina, nem a gente mesmo se obedece. As pessoas são anárquicas, indomáveis, por natureza. Selvagem. Indomável. Nebulosa.
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