O velho tomou seu café de manhã
Comeu um pedaço de pão, olhando a luz que vinha da janela
Sentou em frente ao fogão à lenha, enquanto observava o cães a regozijar uma caça
O que será que trouxeram agora?
O velho sentou no alpendre
Lembrou da antiga canção que lhe falava da força, do amor, do chão
Olhou para o chão. Sabia que era, em breve, seu destino.
Se demorou no olhar. Como será que estava Maria, abaixo daquela terra toda?
Deu de ombros. Fingiu não ligar. Voltou aos cachorros, que traziam consigo um gambá esfacelado.
Caras vermelhas de sangue, arfando a felicidade do abate.
Chega, sai daqui. Leva esse gambá junto ou vou enterrar ele também.
Não queria mais enterrar
A verdade é que a vontade-cachorro reinava no desejo de criar crateras do chão que trouxessem de volta seu amor
Ou quem sabe lhe pudessem confundir as vistas e ele, sem querer, se jogar no desfiladeiro ao lado de onde ficará pela eternidade o corpo de Maria.
Muitas vezes ele pensou, qual solução haveria
Mas hoje, ali, ao sol da manhã, o velho apenas olhava a vida dançar seu gesto sanguíneo
