As fomes me atravessam
A fome de amor
A fome da dor que esteve aqui
A fome do porvir
que já parece estar
Vivi a vida como uma negociante
No comércio de dores e fomes
Escambeei a vida
Deixei a alma aburguesar
No delírio infantil do controle
Como quem guarda em seu estoque
Os potes, os vidros, de(vida)mente organizados, etiquetados, uniformizados
contendo, ordenadamente, minhas formas
Bombardeio minha própria ordem e, admirada, vejo enquanto os cacos e vidros e tampas se desabam rompendo os limites do que outrora fora eu.
Na fumaça da explosão, um corpo faminto
Um monstro, com cabeça de onça, pata de elefante e garras de jacaré a atacar memórias, abusos, amores e tudo que em mim ainda pulsa
sem saber direito o amor e a morte se tornam amantes
rodopiantes na noite escura
até que a última garra se d e s f a ç a
com o último suspiro do que um dia fomos
Somente a poeira testemunha
O abafar e a minha história
os cacos cortam
cuidado onde pisa
o que acha que encontra pode ser
a próxima explosão

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