domingo, 7 de setembro de 2025

 As fomes me atravessam

A fome de amor

A fome da dor que esteve aqui

A fome do porvir

                 que já parece estar


Vivi a vida como uma negociante

No comércio de dores e fomes

Escambeei a vida

Deixei a alma aburguesar 

No delírio infantil do controle


Como quem guarda em seu estoque

Os potes, os vidros, de(vida)mente organizados, etiquetados, uniformizados

contendo, ordenadamente, minhas formas


Bombardeio minha própria ordem e, admirada, vejo enquanto os cacos e vidros e tampas se desabam rompendo os limites do que outrora fora eu.


Na fumaça da explosão, um corpo faminto

Um monstro, com cabeça de onça, pata de elefante e garras de jacaré a atacar memórias, abusos, amores e tudo que em mim ainda pulsa 

sem saber direito o amor e a morte se tornam amantes 

                                                                         rodopiantes na noite escura

até que a última garra se     d e s f a ç a

com o último suspiro do que um dia fomos


Somente a poeira testemunha

O abafar e a minha história

os cacos cortam


cuidado onde pisa

o que acha que encontra pode ser

a próxima explosão

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