Essa não é uma história que começa nessa vida
Hoje eu saúdo isso que atravessa e de novo e de novo, pelos tempos, forma o que eu sou.
Respiro
As memórias escritas embaixo da pele, papiro do que fui
Estrelas no meu respirar
uma luz que se apaga
Luto
Verbo e estado
Hoje entrego às estrelas de volta essa dor
Fui eu
Sou eu
Escolho fazer de minha casa alegria
De mim mesma amor
Do amor, bondade
Deixo que a bondade reescreva meus ossos
Jamais subservientes
Abrindo espaço - e coragem - para que, dentro de mim, haja, sim, a luz.
A luz que vê. Que ilumina. Que acolhe. Que aquece.
Lareira que enternece a vida
Ao olhar meu passado um "falso amor" se faz. Esse que reduz. Que tira. Que desfaz. Que amputa.
Enxergar a responsabilidade que temos corta a própria carne
Exige
Coragem
Vivo, afinal.
Por muitas vidas o amor foi pra mim interdição
E em parte por escorrer, noutra por se esconder, embaralhou o que eu sabia
e vivi, embaralhada
emaranhada
nas teias das minhas vidas
como aranha, bote e presa
dependurada
Vi a vida de cabeça pra baixo
E ela me viu
Ver a vida
E ser vista por ela
Dependurada
Na inversão do meu próprio ser
o amor torna-se dor
o encontro - suspensão
o real imaginário
a ponte explosão
Vivi a dor, é verdade
Ela me viveu também
Nos sons, nos cheiros, nas vísceras
Esculpimos um passado
Voltar a mim
Sem nenhuma pedrinha que me mostrasse o caminho
(o que existe por baixo dos cacos?)
trêmula chama
acendendo meu escuro
fogueira
No fogo que arde
Pulso de luz
Que veio da escuridão
e só dela poderia se originar
expando a luz
atravesso
toco você
As cascas, opacas, caem - uma a uma
e resta o brilho - fervoroso - de existir
Eu, vida
E pulso
queimando correntes
refazendo o amor
que me disse
Eu posso. Eu curo.
Ouvi sua música
No sim da existência
Hoje, é a porta dessa vida que abri e convido, vem.
Entra, canta, dança e pulsa
O som que cura.

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