Uma das coisas que percebo que aconteceu ao me tornar mãe foi uma explosão dos meus sentidos. O que eu percebia foi catapultado milhares de vezes por um corpo que brotou de gestar, parir, amamentar, cuidar
Um outro universo de cores, sensações, impressões começou a ser uma verdade que de tão enorme se torna doída nas camadas da minha pele e da carne
Atravessar essas camadas em meus próprios portais internos e não ter qualquer escuta da enormidade de ser mãe
Mãe rasga. Mãe atravessa. Mas é travessia necessária da vida. Não se passa por isso sem rasgar a si, sem burlar a si, seu corpo, seu tom, sua forma
Onde está a mulher que existia antes?
Ela nunca mais estará
Nos sentidos catapultados, na fome da vida que se multiplica, na beleza desesperada que dói
Em nenhum deles encontro mais o meu olhar
Descondicionar é parte do processo de voltar a mim
(Insuficiente, eu diria)
Mas já meu corpo é agora a realidade persistente da explosão do sentir, do perceber, do receber, do entregar
Agora eu escorro... não sei mais o que contenho
Todas as memórias me são evocáveis.
Todas as dores realizáveis
Meu corpo agora, olho d'água, brota a vida e a oferece de novo à existência
Despejar a vida na vida
Ninguém me contou que exigia tanta coragem.
Ninguém me contou o cansaço de seguir sendo nascente que não esgota e sempre, mais um pouco, entrega

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