quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Hoje a dor da maternidade me atravessou

Uma das coisas que percebo que aconteceu ao me tornar mãe foi uma explosão dos meus sentidos. O que eu percebia foi catapultado milhares de vezes por um corpo que brotou de gestar, parir, amamentar, cuidar

Um outro universo de cores, sensações, impressões começou a ser uma verdade que de tão enorme se torna doída nas camadas da minha pele e da carne

Atravessar essas camadas em meus próprios portais internos e não ter qualquer escuta da enormidade de ser mãe 

Mãe rasga. Mãe atravessa. Mas é travessia necessária da vida. Não se passa por isso sem rasgar a si, sem burlar a si, seu corpo, seu tom, sua forma

Onde está a mulher que existia antes?

Ela nunca mais estará 

Nos sentidos catapultados, na fome da vida que se multiplica, na beleza desesperada que dói

Em nenhum deles encontro mais o meu olhar

Descondicionar é parte do processo de voltar a mim
(Insuficiente, eu diria)

Mas já meu corpo é agora a realidade persistente da explosão do sentir, do perceber, do receber, do entregar

Agora eu escorro... não sei mais o que contenho

Todas as memórias me são evocáveis. 

Todas as dores realizáveis 

Meu corpo agora, olho d'água, brota a vida e a oferece de novo à existência 

Despejar a vida na vida

Ninguém me contou que exigia tanta coragem. 

Ninguém me contou o cansaço de seguir sendo nascente que não esgota e sempre, mais um pouco, entrega

Nenhum comentário:

Postar um comentário